Saiba sobre Crowdsourcing na Área de Suprimentos
Dentro da área de suprimentos, procuro pesquisar novas metodologias, e uma que tem me chamado muita a atenção é o crowdsourcing.
Por definição, crowdsourcing é um processo colaborativo em que um grupo se reúne para agregar seus conhecimentos em torno da solução de problemas.
O rápido crescimento do comércio eletrônico e as mudanças nas expectativas dos consumidores começam a exigir que as empresas de entrega pensem fora da caixa.
Neste turbilhão de movimentações que o mercado, de forma em geral, foi obrigado a fazer, as transportadoras não só precisarão lidar com volumes recordes, mas também trabalhar, em alguns casos, para que suas entregas sejam feitas no mesmo dia. Afinal, como mencionei em outra publicação recente, os setores de suprimentos e seus armazéns não estavam preparados para ter margens de segurança em suas operações e, até o início da pandemia, o pensamento lean predominava.
A partir desta pesquisa fiz, a pergunta:
Como as empresas de logística podem capitalizar melhor estas tendências e, ao mesmo tempo, proteger suas participações de mercado de novos concorrentes de forma inovadora?
Penso que a resposta pode ser o crowdsourcing.
Ok, muitos perguntarão: qual a novidade?
Se olharmos alguns processos, esta linha não é um fenômeno completamente novo. Contudo, poucas operadoras além da Amazon utilizaram o modelo para a entrega na última década com sabedoria e maestria.
Conversando com gestores de suprimentos e executivos, observei que a maioria considera que o crowdsourcing funciona bem em caronas compartilhadas ou entregas ponto a ponto (como com aplicativos de entrega como UberEats e iFood), mas o modelo não é adequado para distribuição de grande volume.
Pois discordo e vejo de uma forma diferente.
Com base no sucesso da Amazon com o modelo, bem como minha própria experiência dentro da área de Oil&Gas, acredito que o crowdsourcing apresenta uma grande oportunidade para empresas de logística.
Quando devidamente compreendido e aproveitado, o crowdsourcing pode gerar grandes benefícios operacionais, ajudar a fornecer uma experiência excepcional ao cliente e permitir que as empresas de logística de última milha capitalizem melhor a crescente demanda pela entrega final.
Com base em vários estudos dentro das minhas operações, vejo dois conceitos errôneos em torno do modelo de crowdsourcing:
- Crowdsourcing é mais econômico do que os modelos de distribuição tradicionais, uma vez que as taxas de mercado para motoristas de crowdsourcing são mais baixas do que as dos motoristas profissionais.
- O crowdsourcing é prejudicial para as empresas de entrega tradicionais porque permite que os remetentes “cortem o intermediário” e se conectem diretamente com o motorista.
Nos Estados Unidos, as plataformas de compartilhamento de carona Uber e Lyft ou a plataforma de entrega Flex (o aplicativo de crowdsourcing de última milha da Amazon) normalmente pagam a seus motoristas algo em trono de US$ 20 por hora. A maioria das plataformas de entrega de restaurantes paga aproximadamente o mesmo.
Embora estas taxas sejam certamente menores do que a renda por hora de um motorista sindicalizado da UPS ou DHL, elas são surpreendentemente comparáveis ao que a maioria das transportadoras regionais ou empresas de entrega locais pagam. Além disso, a competição por motoristas de crowdsourcing – que estão se tornando cada vez mais o gargalo para o crescimento no espaço sob demanda – tem aumentado constantemente.
Neste cenário, comecei a perguntar a minha equipe de suprimentos: que tal “cortar o intermediário”?
É verdade que a maioria das plataformas de crowdsourcing eliminou, pelo menos até certo ponto, o papel do operador logístico. Porém, a realidade é que isso não tem nada a ver com o crowdsourcing em si, mas sim com a tecnologia de automação que essas empresas desenvolveram.
Por exemplo, ao aproveitar algoritmos de aprendizado da operação, as plataformas de crowdsourcing são capazes de atribuir tarefas de entrega automaticamente aos motoristas com base na localização e disponibilidade em tempo real.
Estes algoritmos inteligentes também podem agrupar endereços de entrega em rotas, determinar a maneira mais rápida de completar uma rota e fornecer ao destinatário um ETA preciso e visibilidade em tempo real.
Todas estas tarefas são tradicionalmente conduzidas por um despachante ou operador, e sua automação se traduz em maior produtividade e margens.
Aqueles que chegaram até este ponto do artigo, talvez ainda se perguntem:
“se a redução de custos ou o aumento da produtividade não são os principais benefícios do crowdsourcing, o que o torna tão atraente para a Amazon e seus rivais de varejo?”
Minha resposta está na natureza incrivelmente flexível do modelo e em seu potencial de escalabilidade.
Existem dois outros benefícios importantes que tornam o modelo de capacidade flexível altamente atraente para a Amazon. Em primeiro lugar, do ponto de vista do nível de serviço, o crowdsourcing permite que a Amazon se proteja contra o abandono de motoristas de última hora e garanta que sempre haja um motorista disponível para qualquer tarefa de entrega. Afinal, qual gestor de suprimentos que não teve pressão alta devido ao cancelamento de última hora ou o não embarque da sua carga?
E não podemos parar nas nossas operações. Lembremos sempre que cuidamos de clientes internos da área de suprimentos e, quando tocamos neste ponto, talvez entendamos o motivo pelo qual a Amazon possui uma frota flexível que permite que ofereça aos clientes uma variedade de serviços de entrega que as transportadoras de frotas fixas tradicionalmente achavam caras para fornecer.
Entregas em duas horas, no mesmo dia e à noite só são possíveis com o crowdsourcing: a Amazon pode sempre encontrar um motorista disponível a qualquer hora do dia e permitir que o cliente escolha sua janela de entrega preferida, minimizando a probabilidade (e custo) de tentativas de entrega malsucedidas. Isso dá à Amazon outra maneira poderosa de encantar seus clientes e aumentar ainda mais a confiança e a fidelidade daquele cliente. Tenho certeza de que o seu setor Comercial iria agradecer muito neste ponto.
Não pensem em nenhum momento que a mudança de processo do tradicional agendamento de carga para algo com um pensamento de crowdsourcing será uma via fácil. Acredito que o crowdsourcing não deve ser domínio exclusivo de empresas de tecnologia disruptiva, como Uber e Amazon, mas pode e deve ser usado, por exemplo, dentro de grandes projetos de Suprimentos.
No entanto, a implementação do modelo em empresas de entrega mais tradicionais requer uma mudança de mentalidade e investimentos adequados em tecnologia.
A boa notícia é que essas tecnologias já existem no mercado. Roteamento dinâmico, geofencing, roteiro online para corrigir quaisquer erros de GPS e um banco de dados de fotos de todos os locais de entrega – são todos recursos de aplicativos móveis inteligentes que fornecem aos motoristas instruções passo a passo fáceis. Rastreamento ao vivo, ferramentas de chat e um sistema de liquidação instantânea podem ajudar os operadores a obter controle sobre qualquer operação de crowdsourcing, removendo atritos desnecessários.
Estas tecnologias também podem ser adaptadas para qualquer tipo de operação, independentemente do crowdsourcing. É apenas uma questão de saber se alguém está disposto a fazer o investimento, e nunca houve melhor momento para fazê-lo. Nós gestores de suprimentos precisamos pensar que manifesto de carga pode ser e deve ser inserido em uma tela de celular: custa menos, é mais sustentável e sua precisão é muito maior.
Precisamos aproveitar as oportunidades mesmo em momentos sombrios como este em que estamos vivendo. É hora de pensarmos na inovação.
Não defendo que as empresas devam substituir completamente suas frotas com motoristas crowdsourced. Afinal, o custo de manutenção de uma grande frota de crowdsourcing pode ser pesado, e motoristas de entrega experientes ainda terão um desempenho melhor em entregas personalizadas, volumosas ou os serviços que denominamos “luvas brancas”.
Ainda assim, começo a acreditar que as operadoras não podem mais ignorar o sucesso de programas crowdsourced, ou correm o risco de ficar para trás. Ao compreender a economia, os principais benefícios e a tecnologia necessária para aproveitar o crowdsourcing, as operadoras também podem usar o modelo como um meio de complementar suas frotas existentes, diferenciar na experiência do cliente e capitalizar melhor na crescente demanda por motoristas na milha final.
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